Depois de feita a apresentação do autor deste livro e o dos princípios porque se rege prossigo a minha análise destacando dele alguns trechos que, como este, ora dão pistas sobre « caminhos » a seguir, ora me permitiram redescobrir pedaços da história humana recente e rever outros cuja exacta dimensão e consequências até aqui ignorava ! Assim :
« …populações com múltiplas origens, que vivem lado a lado em todos os países, em todas as cidades, vão continuar a olhar-se entre si através de prismas deformantes – algumas ideias feitas, alguns preconceitos ancestrais, algumas fantasias simplistas ? Parece-me que chegou o momento de modificar os nossos hábitos e as nossas prioridades para nos colocarmos seriamente à escuta do mundo onde estamos embarcados. Porque neste século já não há estrangeiros, já só há « companheiros de viagem ». Quer os nossos contemporâneso habitem do outro lado da rua ou no outro lado da terra, estão a dois passos da nossa casa. Os nossos comportamentos têm efeito na sua carne, e os seus comportamentos têm efeito na nossa.
Se pretendemos preservar a paz civil nos nossos países, nas nossas cidades, nos nossos bairros e no conjunto do planeta, se desejamos que a diversidade humana se traduza por uma coexistência harmoniosa e não por tensões geradoras de violência, já não podemos permitir-nos conhecer « os outros » de maneira aproximativa, superficial, grosseira. Temos necessidade de conhecê-los com subtileza, de perto, direi mesmo na sua intimidade. O que só pode fazer-se através da sua cultura. E em primeiro lugar através da sua literatura. É aí que ele revela as sua paixões, as suas aspirações, os seus sonhos, as suas frustrações, as suas crenças, a sua visão do mundo que o rodeia, a sua percepção de si mesmo e dos outros, inclusive de nós próprios. Porque ao falar dos « outros » convém nunca perder de vista que nós próprios, quem quer que sejamos, onde quer que estejamos, somos também « os outros » para todos os outros.
É claro que nenhum de nós tem a possibilidade de conhecer tudo o que gostaria ou deveria conhecer desses « outros ». Há tantos povos, tantas culturas, tantas línguas, tantas tradições pictóricas, musicais, coreográficas, teatrais, artesanais, culinárias, etc. Mas se encorajássemos qualquer pessoa a apaixonar-se desde a infância e ao longo da vida por uma cultura diferente da sua, por uma língua livremente adoptada em função das suas afinidades pessoais – e se ela estudasse ainda mais intensamente do que o indispensável a língua inglesa – daí resultaria uma tessitura cultural densa que abrangeria todo o planeta, reconfortando as identidades temerosas, atenuando os ódios, reforçando pouco a pouco a crença na unidade da aventura humana e tornando possível, por esse facto, um sobressalto salutar.
Não vejo objectivo mais crucial neste século e é claro que, para termos os meios para o alcançar, devemos atribuir à cultura e ao ensino o lugar prioritário que lhe cabe.
Talvez tenhamos começado a sair, nos Estados Unidos e fora, de uma era sinistra onde era de bom-tom cuspir na cultura e fazer da incultura um testemunho de autenticidade. Uma atitude populista que, paradoxalmente, se junta à do elitismo, na medida em que, tanto num caso como no outro, se aceita implicitamente a ideia segundo a qual a « população » teria capacidades limitadas, que não conviria pedir-lhe demasiados esforços intelectuais, que bastaria fornecer-lhes caddies bem carregados, alguns slogans simplistas e diversões fáceis, para que fique piedosa, tranquila e reconhecida. E que a cultura deve ser o apanágio de uma ínfima minoria de iniciados.
Trata-se aqui de uma concepção desdenhosa e perigosa para a democracia. Porque não podemos ser totalmente cidadãos ou eleitores responsáveis se nos deixarmos manipular passivamente pelos propagandistas, se nos deixarmos inflamar ou acalmar segundo a vontade dos governantes, se nos deixarmos arrastar docilmente para aventuras guerreiras. Para poder decidir com conhecimento de causa, sobretudo nos países cujas orientações determinam em grande medida a sorte do planeta, um cidadão tem necessidade de conhecer em profundidade e com subtileza o mundo que o rodeia. Acomodar-se à ignorância é renegar a democracia, é reduzi-la a um simulacro.
Por todas estas razões e algumas outras, estou convencido de que a nossa escala de valores só pode basear-se hoje no primado da cultura e do ensino. E que o século XXI, para retomar a frase já citada, será salvo pela cultura ou então soçobrará.
…
O combate para « manter o mundo » será árduo, mas o « dilúvio » não é uma fatalidade. O futuro não está escrito de antemão, é a nós que compete escrevê-lo, concebê-lo, construí-lo – com audácia, porque é preciso ousar romper com hábitos seculares ; com generosidade, porque é preciso unir, tranquilizar, ouvir, incluir, partilhar ; e acima de tudo com sensatez. É a tarefa que incumbe aos nossos contemporâneos, homens e mulheres de todas as origens, e eles não têm outra alternativa senão assumi-lo.
Quando um país está mergulhado no marasmo, pode sempre tentar-se emigar, quando o planeta está ameaçado, não existe a opção de ir viver algures. Se não queremos resignarmo-nos à regressão, tanto para nós próprios como para as gerações vindouras, devemos tentar inflectir o rumo das coisas. »
A ideia de que a resposta está na cultura e no ensino/educação dos povos parece-me não só justa como ao alcançe de todos nós! E a primeira imagem que me veio à ideia foi a de trabalhos realizados pelos alunos da E.I.G. (Escola Internacional de Genebra, aquela que situada perto da O.N.U.)) onde trabalhei durante algum tempo ainda recentemente, cujo tema se debruçava nas múltiplas e diferentes nacionalidades presentes na própria escola realçando as características específicas a cada uma, como a sua língua, as suas tradições etc., promovendo a troca de informação e de ideias, transformando assim aquilo que as distingue numa riqueza que mais não quer que ser partilhada, num património comum a toda a humanidade! Sim porque aquilo que nos distingue não tem forçosamente que nos separar… antes nos deveria unir no respeito pelo direito à diferença ! E vocês o que acham ?
P.S.: Um clique sobre o título e terão acesso a mais informação sobre o autor!
Conheces o meu "blog a sério", o «Persuacção»? É em http://persuaccao.blogspot.com
RépondreSupprimerPosso pedir ao meu «compère» Paulo Moura para lá publicar um excerto deste teu texto, remetendo para este teu post?
São,
RépondreSupprimerAntes de mais um Bom Dia!
Deves ter-te visto ...dida para ler este Post, é que andei às voltas para conseguir formatá-lo duma forma simpática e que sobretudo ajudasse a distinguir o texto em si daquilo que escrevo a (des)propósito e só agora é consegui(+-)! Quanto à pergunta que me fazes, pensei já lá ter estado mas agora que de lá vim dei-me conta que não tinha reparado nas fotos de todos os seus membros (não sabia que tu e o Orca faziam parte, pensava que era do Paulo Moura que entretanto teria convidado a AnAndrade)... para veres como sou despistada!
Mas antes de te responder explica-me o porquê dess ideia? Porque o texto te interessou? ou apenas porque me queres ajudar?! É que se for apenas para me ajudar é capaz de não ser boa ideia!! Partilhar este livro e as suas ideias, bem como a descoberta do seu autor (que conheci graças ao tradutor) confesso que é uma ideia que me agrada, mas gostaria de realmente despertar o interesse dos "outros"!! Fico â espera da tua resposta! Com um abraço de Laura!
Laura, nunca te sugeriria publicar isto no «Persuacção» se não achasse que o tema (a compreensão recíproca em vez do choque entre culturas) se encaixa perfeitamente no espírito desse blog.
RépondreSupprimerSão,
RépondreSupprimerÓptimo e por favor não leves a mal, é que por muito que a ideia me agrade não queria que a simpatia que existe entre nós (que tanto me agrada) fosse a razão principal senão a única!!
Sendo assim podes avançar! E já agora, diz-me já tinhas ouvido falar deste escritor ou de alguns dos seus livros (deste em particular)? E de Jean Ziegler já ouviste falar?! Li recentemente um livro seu que tb me deu imensa vontade de partilhar!! Bem não te chateio mais! Inté
Desconhecia, quer o autor quer os seus livros. Também por isso me parece interessante partilhar. Mas para a próxima entendes-te com o Paulo Moura. Ele é que é o dono do blog e eu sou só uma grande malucona (aliás, já viste a sugestão que publiquei há pouco no Persuacção?)
RépondreSupprimerSão,
RépondreSupprimerComo queiras! E tu és muito mais que isso que dizes ser (e qu'inda bem que és!!), aliás obrigada à mesma, pois ainda assim a tua ideia pareceu-me boa e sobretudo soube-me bem!! Inté...
Inté ;O)
RépondreSupprimerMagníficos...
RépondreSupprimerO texto e o diálogo nos comentários que mostra que a Laura é uma pessoa de princípios que mais uma vez admiro...
Rui Felício,
RépondreSupprimerObrigada pelas suas palavras, volte sempre e sobretudo sinta-se livre de comentar esteja ou não de acordo!
E o teu texto já mora no «Persuacção» ;O)
RépondreSupprimerEm meu nome e da São Rosas, bem hajas.
Paulo Moura,
RépondreSupprimerApesar dos meus 51 anos devo confessar que estas duas frases, tão simples e informais, me deixaram por uns segundos muda...! Obrigada a ambos e por favor não esqueçam que todo o texto entre aspas não é meu mas sim de Amin Maalouf e que apenas é meu o parágrafo de introdução e o último escrito a título de conclusão!
Permiti-me fazer alguns destaques. Pus o teu texto a azul, com as citações entre aspas.
RépondreSupprimerSe não gostares, diz. Afinal, a leitura do livro é tua.
Paulo Moura,
RépondreSupprimerVim agora de lá e devo confessar que os destaques correspondem em grande parte ao que mais reteve a minha atenção e que aliás determinou a selecção que fiz! Além disso e mesmo que assim não fosse, parece-me natural e até salutar que (re)publicado agora em casa de "outros" seja submetido a sua apreciação, até porque fazendo jus ao trecho em si, a melhor forma de evoluir e avançar na minha análise é perceber o seu impacto junto dos tais "outros" de que fala e cuja opinião não só me interessa como merece o meu respeito!
Paulo Moura,
RépondreSupprimerÉ que não tem piada nenhuma pôr os outros a ler com os meus olhos... inda por cima agora que uso óculos! ;)
É fácil de perceber por que motivo a São Rosas gosta de ti ;O)
RépondreSupprimerAi que é hoje qu'eu me derreto!! ;)
RépondreSupprimerEu levo a taça... e a São Rosas o chantilly ;O)
RépondreSupprimerPronto, agora é que foi... tá o leite intornado! Isto é que bai ser chorar sobre leite derramado! ;0)
RépondreSupprimerEu não sou muito para dramas :O)
RépondreSupprimerNão poderia ser antes... sobre leito derramados?
Fixe, porque eu tb não... é que se m'esgotaram as piadas! :(
RépondreSupprimer;O)
RépondreSupprimerPois... muito eu gostava de ter aqui os bonequinhos que tem a São lá na Funda! Davam-me cá um jeitaço, mais que não fosse p'ra dizer o que por vezes às palavras escapa! ;)
RépondreSupprimerÉ mesmo. Mas ela também não mos empresta para o Persuacção.
RépondreSupprimerEstou a brincar, mas sabes que o sistema de comentários d'a funda São é exclusivo? Era de um programador israelita, que acabou com ele... mas instalou-o no servidor da funda São. Foi pago com uma colecta pela malta que visita o blog. Malta fixe, aquela.
Paulo Moura,
RépondreSupprimerAcho que já li algo sobre o assunto mas não com esse pormenor! É mesmo uma malta fixe!! Desde o primeiro comentário, atirado quase a "medo", que me sinto como em casa! Um espaço de inteira Liberdade!!
A regra principal é a proibição de ataques pessoais. Quem não alinha nisso (são raros mas às vezes acontece) tem um aviso e depois os comentários são eliminados.
RépondreSupprimerHá uma afirmação do autor que achei particularmente interessante em que ele diz que “entrámos neste século sem bússula”.
RépondreSupprimerIsto levar-nos-ia à interpretação do mundo global num cenário optimista, sem fronteiras e onde as diferenças seriam uma forma de união, conhecimento e crescimento dos povos.
Infelizmente, a realidade está longe do que o autor idealiza mas concordo que será o desejável, só que, para isso acontecer, teria de haver cedências e partilha dos grupos sociais mais favorecidos em prol daqueles que nada têm.
Os tais “companheiros de viagem” têm de se sentir iguais e não proscritos ... só assim funciona uma sociedade globalizada ... resumindo, o desejável será valorizar, no meio da diversidade, os pontos que nos unem e não os que nos separam.
Obrigada pela partilha, Laura ... fiquei a conhecer mais um autor!
Kikas,
RépondreSupprimerÉ isso mesmo que penso Kikas e não acho que seja nada utópico, tudo começa na educação que damos às nossas crianças, no abordar desde cedo a diversidade humana sob todas as suas formas... é no fundo aprender a aceitar o outro, começando por tentar conhecê-lo para o poder perceber! Claro que é um longo trabalho, um trabalho de anos mas que acredito valer a pena! Quanto ao autor é um verdaeiro prazer partilhá-lo não tens que agradecer e sobretudo vai passando! Com um abraço de Laura!
São Rosas,
RépondreSupprimerEssa é uma boa regra! Não temos que calar o que sentimos seja sobre o que for que a nossa atenção se debruçe e nem sequer temos que concordar, mas isso não deveria nunca implicar insultar e menos ainda agredir! Basta um pouco de respeito e de atenção para com o "outro" seja ele quem for!! Por isso tens a minha toda... todinha! ;)
Aliás, esse é o princípio que deveríamos ter à escala global e não só no nosso cantinho, Noé?
RépondreSupprimerEu alguma vez conseguiria ir combater contra algum povo? Quando já conheci e tenho amizade com pessoas de várias raças, graças à minha colecção e à porta para o mundo que é a internet?
São Rosas,
RépondreSupprimerOra nem mais... um princípio tão simples e contudo revela-se por vezes tão difícil de aplicar!!