dimanche 25 février 2024

O princípio do fim



Foi quando o princípio do fim? 

Naquele dia frio de Outubro? Ou terá sido pouco depois, alguns meses apenas, naquele dia ainda mais frio e cinzento de Fevereiro?! Não sei e pergunto-me se saber mudaria alguma coisa, porque quando o fim se anuncia tudo à volta se esboroa, desbota, perde os contornos, a forma e até o sentido. Todas as janelas e portas se fecham, tudo pára, não há nem passado, nem futuro, apenas um presente sem luz, sem cor, nem esperança! Um presente que não se quer e que dói de tão nu e cru!

 Tirai-me deste limbo, frio e vazio, que me rasga os sonhos e entorpece a alma...

mardi 9 janvier 2024

Inverno



Um dia este vazio vai-se e uma maré cheia... de esperança e desejos oprimidos, vai alagar as terras magras e secas dos meus sonhos mais tímidos...
Uma vez saciadas, tornar-se-ão férteis e é então que as vous semear de letras, letrinhas e alguns sinais, que a seu tempo irão florir em canteiros, ricos de belas e intermináveis histórias!
Serei a jardineira das minhas palavras... que de tantas vezes borrifadas, cortadas e recortadas escaparão ao fio da navalha do Inverno para celebrarem ilesas a magia de todos os contos!

Enquanto lá fora um manto de neve cobre o cinzento, velho e triste, das pedras da minha rua...



mardi 19 décembre 2023

Emaranhado de sentimentos...




É tão frustrante o sentir em que que mergulho cada vez que me esforço por me traduzir em palavras. Como se o meu íntimo fosse um enorme vazio, um imenso areal, estéril, sem horizonte, nem margens. Nada me prende mas também nada me solta. Vagueio, sem sentido ou propósito.

Presa no infinito das minhas dúvidas, quanto mais esperneio mais me sinto enredada pelo fio amargo desta realidade crua que me rodeia e apaga!

Cada dia que passa, tropeço em imagens que me atiram à cara, sem dó nem piedade, pedaços de vidas ensanguentadas, esmagadas, perdidas, que me deixam sem voz, sem lágrimas, sem força, sem ânimo sequer para sonhar! Partilho-as como quem espera acordar sensibilidades alheias... quando alheios estamos todos, cada vez mais. Anestesiados pelo show quotidiano duma vulgaridade sem limites, tornada norma e normativa nesta velha Europa caduca e agonizante!

mercredi 7 juin 2023

Ao sabor dos ventos, marés e pequenos prazeres



Olhar o céu nas gotas de orvalho, sentir a vida nos aromas frescos da manhã e mergulhar os pés na areia húmida da praia, enquanto o olhar se perde no vaivém das ondas desse mar, sempre inquieto. É tudo o que quer... sentir-se em paz consigo mesma.

Quanto ao Mundo que a rodeia, tudo o que pede é que a deixem continuar a acreditar que nada realmente acaba apenas se transforma: como as folhas das árvores que depois de caídas, sem vida nem côr, se tornam humus: o alimento sagrado da Terra que nos sustenta. E assim cada ciclo se revela fértil mas também único na sua infinita sucessão!

Demorou tanto tempo a chegar aqui e a simplesmente aceitar-se, tal e qual abraçou a Vida, tal e qual a Vida a fez! Aceitar-se, finalmente, sem embaraço ou vergonha, arrependimento ou culpa. Ser Ela nua e crua, sem medo ou hesitação, sem rodeios nem enfeites e apreciar-se apesar de tudo e todos. Demorou tanto, que ainda sente a dor do caminho já feito.

Daí talvez essa vontade de gritar ao seu redor que a deixem ser Ela mesma. Com tudo o que faz dela um Ser tão imperfeito e tão único, quanto a impressão digital dos seus dedos, o adn do seu corpo, ou a dor infinita da sua alma!

Hoje, já só quer viver o momento, sem nada a ganhar ou perder, apenas viver ao sabor dos ventos, das marés e de pequenos prazeres.

Já pouco lhe importa que não gostem, que não a achem interessante ou mesmo capaz! Hoje é o seu sentir que mais lhe importa é agradar-se o que mais deseja


mardi 2 mai 2023

Promessas de água!





Lágrimas, são pequenos ecos do meu sentir, o orvalho límpido e transparente das minhas pequenas mágoas...

São promessas de água, que anunciam lagos, transbordam rios e escondem oceanos de dor! Apenas gotas que deixam sulcos indeléveis num rosto sofrido...




mercredi 13 juillet 2022

O melhor está ainda para vir!


 

São várias as fases porque passamos ao longo da Vida.

Entre a infância e a adolescência a passagem faz-se com muitas borbulhas e sonhos sem fim! Ansiamos largar o ninho e partir à descoberta. Olhamos para os adultos como quem tenta compreender uma espécie em extinção, responsável por um mundo, no mínimo, obsoleto que acreditamos poder mudar. E é então que abraçamos vários ideais, nos empenhamos em diferentes lutas, todas urgentes e sobretudo justas. A nossa força é imensa, a Vida é eterna e para nós o Mundo parece não ter segredos. 

Da adolescência para a idade adulta dámos-nos conta que nem tudo é branco ou preto, que entre ambas há o cinzento e as suas mil e uma nuances. Que as lutas até podem ser justas e urgentes mas poucas terão sucesso e mesmo quando terminam numa bela e bem florida revolução, acabam por se revelar condenadas a esmorecer e a perder, com o tempo, toda a força, toda a cor e toda a coragem nela investidas. Depressa o banho de multidão se transforma em duche frio e nos devolve a uma realidade demolidora e triste! É então que as metas sonhadas se vão tornando, cada dia, mais  longínquas, até nos sentirmos obrigados a esquecê-las ou, simplesmente, a mudar de objetivos. E de repente, contra todas as expectativas, acordamos um dia transformados naqueles adultos de quem fugimos e que tanto contestamos!

A última fase, contrariamente ao que parece anunciar, pode revelar-se, de todas, a mais libertadora, aquela em que deixamos de sentir a necessidade de parecer e passamos simplesmente a procurar ser quem realmente somos. Aquela em que deixamos de querer mudar o que quer que seja para em vez disso aceitar o que a viagem e o caminho têm para nos oferecer. É por esta altura que pouco nos importa o olhar dos outros ou o que possam pensar e dizer.

Porque, finalmente, concluímos que é preciso muito pouco para sermos felizes e que na Vida há dois momentos únicos, aos quais, nenhum de nós escapa e cuja experiência não poderá nunca ser partilhada: o Nascimento e a Morte.