jeudi 7 juin 2018

Virar a página...


Há episódios na vida dos quais dificilmente nos libertamos. Os vestígios que deixam na nossa existência vão para além de tudo o que se possa esperar. 
Um erro, um passo mal dado, um caminho mal escolhido e uma espiral infernal, de medos angústias e culpas, se sucedeu invadindo anos a fio o quotidiano da nossa existência.
No dia 16 de Março de 2018 fechou-se um capítulo com mais de 20 anos. Finalmente, vamos poder virar a página!
De volta ao Porto de partida dei comigo paralizada pela dor de ver, velhos sujos e maltratados, os poucos e pobres objectos que antes, juntos, fizeram a nossa casa e que abandonados à sua sorte se transformaram no testemunho claro da erosão do tempo mas também do profundo desprezo daqueles que por ali passaram!
Esventrada, com buracos insuspeitos, fios pendurados, móveis, velhos e novos, quebrados e até queimados... a nossa casa parecia acordar de um doloroso pesadelo!
Não me pude impedir de chorar, não tanto pelos objectos perdidos, mas antes e sobretudo pela forma tão cruel e contundente.
O pouco que tínhamos, que era certamente pobre e se calhar para alguns até feio, partilhamos sem hesitar e sem esperar de volta nada mais que um pouco de atenção, carinho e respeito Sentimentos que julguei serem mútuos por me parecerem próprios do ser e estar solidário.
Chego a perguntar-me se não teria sido melhor ter-me mantido surda e distante e não ter respondido presente?
Em resposta a esta pergunta houve já quem me dissesse que, por incrível que pareça, talvez fosse hoje mais apreciada! Parece que "os duros" são sempre mais respeitados!!!  
Aliás, acabei por concluir que não deveria ter esperado respeito de quem nunca me respeitou e que o que quer que tivesse feito nada teria mudado!  
Esta é uma verdade nua e crua, daquelas que ferem, que deixam marca e que constatada entre outras ao longo do tempo, é talvez a que mais me custou encarar e que ainda hoje me dói! Dói-me, na consciência de mim mesma, como punhal que ao longo de todos estes anos vem rasgando e ferindo a minha auto-estima, mas dói-me ainda mais na Alma, que sei eterna e por isso mesmo eternamente magoada!
Se digeri-la me parece impossível, resta-me regorgitá-la para a poder expulsar, aceitando que "o que não tem remédio remediado está", e finalmente avançar.
Aqui me tendes, em plena regurgitação!
Apesar de tudo, tão amargamente vivido e sentido, de nada me arrependo apenas lamento tê-lo feito em vão!

2 commentaires:

  1. Ofereço o meu ombro virtual, de um velho lobo nestas andanças do sofrimento e dos lamentos, dos arrependimentos e da persistente regurgitação de tudo o que nunca chegou a ser.
    Força.

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