Já é tarde, digo-me, a jeito de quem procura um bom refúgio para se esconder e faltar assim ao que a si mesma prometeu.
A verdade é que receio o julgamento dos outros e, talvez ainda mais, o meu próprio julgamento! Era jovem, acreditava em tudo, até em mim! Queria viajar pelo mundo e nele deixar a minha impressão. Como se a alguém pudesse interessar!
Hoje que tudo já não passa de um sonho adiado e quase moribundo, a alma dói-me e espicaça-me a memória com recordações que me chamam e me despertam da monotonia dos dias e das longas horas de solidão.
Quase nada parece ter sobrado de um percurso tão sinuoso e recheado, de gentes, de terras, de amores, de crianças, de sonhos, de promessas... de Vida enfim.
Deveria, pelo menos, conseguir perceber o porquê de tanta decepção e tanta mágoa. Para isso talvez deva ousar, primeiro, aceitar o desencanto dos outros, o seu afastamento e depois aceitar a minha própria fuga deste mundo, que hoje não me quer, porque antes, mais não fiz que me isolar e fugir dele.
Não se trata de arrependimento mas sim de capacidade de aceitação, de vontade de digerir e assimilar para poder seguir, finalmente, o meu caminho.
Neste meu mundo, cada dia mais pequeno, já não há espaço para dúvidas, sonhos ou hesitações. O tempo urge e aquele que me sobra deveria ser vivido e apreciado até ao fim...
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