mardi 17 décembre 2024

O dia seguinte...

 




O dia seguinte, foi longo, frio, sofrido e dum realismo assustador. De repente Tu já não estavas connosco... apesar de te ver ali mesmo, deitado, quieto, pálido, gélido e de olhos fechados. Tu já partiras, levando contigo a tua alma e com ela o calor com que antes nos abraçavas, a voz forte e vibrante com que nos despertavas e sobretudo aquele olhar verde e transparente em que me habituara a mergulhar desde o primeiro de todos os encontros!

Terrível e definitivamente só. Foi assim que me senti... não estares revelou-se a definição literal de solidão! Continuar sem ti é o único caminho possível, mas também um enorme castigo, uma tarefa imensa e pesada, para a qual não me sentia, nem sinto, preparada. No peito uma dor profunda e uma pressão imensa. Como fazer e o que fazer para continuar? Todos os dias me pergunto e a cada passo a dor continua, intensa e esmagadora! Tu já não estás e faça o que fizer não voltarás nunca... nunca mais!

Lá fora, brilha a noite pelas janelas iluminadas, vultos que se movem deixam adivinhar histórias banais de dias cinzentos, mais suportados que vividos! E eu, pequena, mortificada e insignificante procuro uma nesga de espaço, uma brecha de calor onde me possa encaixar e aquecer a alma. Entretanto dou-me conta que já não sei comunicar, desaprendi e a surdez agravou ainda mais, impedindo-me de chegar aos outros, sejam os outros quem forem. Mesmo aqueles que desde sempre me conhecem... e dói demasiado! Os dias sucedem-se às noites e eu luto ao quotidiano para alcançar aquele distanciamento que me liberte da dura realidade... luto para aceitar o que a vida me dá, sem me queixar ou reclamar! Tento, mas aceitar a tua ausência tem um peso insuportável no meu coração.

Decidi por isso escrever... procuro na escrita a terapia que me ajude a sarar este mau-estar profundo que me desencaixa do mundo e me deixa profundamente inquieta e em constante sobressalto. Digo a mim mesma que à força de repetir, em surdina, que vou conseguir e que esse dia vai chegar o combate já está meio ganho! Assim o desejo.

Ponho, preto no branco, todo o meu descontentamento, todo o meu sofrer, todas as minhas dúvidas, todos os meus medos: como o de recear não ser capaz de continuar a viver sem ti! Tudo me parece terrívelmente pesado, triste e sem propósito...

Sinto-me viajar no desconhecido... para lá daquela linha em que ficaste, deitado e quieto, traçou-se uma fronteira que atravesso cada dia sem saber onde me vai levar. Tento confortar-me na ideia de que um dia voltaremos a estar juntos, e mais uma vez serei eu a ir ao teu encontro... estarás sentado naquela esplanada da Ribeira, vais voltar a gritar o meu nome e eu vou voltar-me, sorrir, apressar o passo na tua direção e sentar-me em frente a ti com o olhar triunfante de quem ganhou a lotaria!

 

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