dimanche 14 septembre 2025

O fim de um ciclo





Um Domingo calmo, cinzento, frio e ventoso. 
Um dia que anuncia o fim do Verão mas também o princípio do Outono. O fim de um ciclo é simultaneamente o anúncio de um outro que, feliz ou infelizmente, lhe sucede. Assim esperam as noites pelo amanhecer, purificando-se na luz crescente de belas auroras.

Queiramos ou não, o tempo vai passando entre luz e sombra, dia e noite e deixando para trás vestígios de campos arados, frutos caídos, vindimas de outono e vinhos doces de Invernos sofridos em silêncio... falta apenas a inocência da alegria neste quadro bucólico de fim de tarde para que a tua falta seja aceite e perfeitamente integrada no ciclo inodoro e incolor destes meus dias.

Sorrisos e gargalhadas revelam-se assim as chaves preciosas que abrirão as portas do meu pequeno paraíso, para poder finalmente seguir o meu caminho.


jeudi 11 septembre 2025

Esta manhã...

 



Esta manhã decidi que quero ser feliz, quero de novo sentir alegria, arrancar do peito este medo irracional que a tua perda despertou em mim, esta raiva que em mim se agravou e que a cada sobressalto regorgito.


O teu corpo escapou ao alcançe das minhas mãos, mas a tua lembrança não... ouço a tua voz, os teus passos firmes, vejo as tuas mãos sofridas, o teu olhar meigo e paciente que procuro guardar no cantinho mais quente e luminoso do meu ser... a minha alma, o meu cofre forte, resistente ao tempo e à morte.


O meu coração esse, receia perder-te no momento em que parar de bater, cansado pela dor de viver sem ti !


A partir deste instante que cada dia seja iluminado pela lembrança doce dos teus olhos nos meus.

Aninhado no meu coração

 


Sonho acordada desde que partiste...

Imagem atrás de imagem, sinto a luz do sol aquecer-te a pele e reflectir gotas de orvalho no brilho desse teu olhar, tão verde e tão doce. Imaginar-te, aqui e agora, é transformar noites longas e sombrias em sorrisos rasgados pela certeza do reencontro.

Quisera tocar-te uma vez mais, sorrir-te uma vez mais, dizer-te tudo o que ficou por dizer, dar-te a mão e seguirmos caminho... o nosso caminho. Recuso-me a acordar do sonho inacabado da história que foi e é a nossa... imperfeita, plena de emoções, sólida e firme que nem as rochas banhadas pelo Mar que deixamos para trás.

Só assim faz sentido continuar... contigo presente, aninhado no meu coração !

mercredi 27 août 2025

Pedaços de nós...



Uma chuva miudinha e morna de Verão, uma neblina escassa e leve, uma atmosfera calma e silenciosa... por momentos nem mesmo as aves se ouvem, abrigadas sob os telhados em perfeita quietude.

Um dia como muitos outros, apenas quebrado sob o peso desta tristeza que nos acompanha onde quer que possamos ir.


Em casa, tudo e todos esperamos por ti Lilu, os bichanos, eu e todas as boas lembranças da sua presença ainda no ar. Nada mudou, apenas aquela certeza que acompanhava a sua própria aura. Antes tudo era simples e a sua continuidade evidente.


Hoje, sem Ele, evitamos até as nossas sombras fugindo do sol, mergulhando na noite e seus incontornáveis abismos, de onde pensamos sair imunes e mais resistentes. Mas a verdade é que saímos exaustas, tentadas pela inércia do medo, como se pudessemos abrir um parêntesis à Vida, por tempo indeterminado, enquanto esperamos que a tempestade passe.


Mas apenas o tempo passa, sem hesitação ou arrependimento, deixando para trás pedaços de nós à espera de um dia serem recolados... ou simplesmente abandonados.

lundi 25 août 2025

Apontando o caminho... sorrindo!





Tenha a idade que tiver um filho, no coração da mãe será sempre uma criança !


Deitada no sofá ao seu lado, encolhida em posição quase fetal, esguia e até um pouco pálida, de olhos semi-fechados, Lilu dormia... de um sono trémulo e frágil quanto ela.


Por momentos acariciou-lhe os cabelos e num gesto que nem sabe explicar, prolongou o movimento da sua mão direita, a alguns centímetros de altura, ao longo do seu corpo, como quem tenta varrer todas as más vibrações que sorrateiramente se tenham infiltrado nesse seu ser tão acolhedor e meigo.


Ao mesmo tempo ia mumurando : 'Que Deus, o Universo, a Natureza e tudo o que de bom rodeia o ser-humano te protejam, filha do meu coração... e de um momento de entrega ao Amor. Bem Hajas, sonho meu.'


Comunga do seu sofrimento e pede aos céus que a ajudem a ajudá-la, que a devolvam sã e salva, de toda a angústia e ansiedade em que mergulhou, ao perderem a parede-mestra do seu lar, o chão sagrado do seu templo... de alegrias e estrelas agora tão longínquas !

Nada está perdido, talvez suspenso, ou apenas adiado, à espera que uma vez de novo juntas, em harmonia, possam erguer-se, para continuarem, cada uma a sua estrada, certas de que Ele estará sempre por perto, apontando o caminho... sorrindo ! 

mercredi 20 août 2025

Velhas, feias e poeirentas memórias...

 




Uma profunda tristeza e um enorme vazio consomem-lhe a alma em noites febris de desassossego.


Os diálogos dos últimos dias foram intensos e marcados por velhas, feias e poeirentas memórias que o tempo e a dor incharam, agravando sem piedade o seu impacto em almas tão doridas quanto as suas.


Sente-se levada por um redemoinho sem fim, numa espiral de eterna mágoa e sofrimento. Debate-se para escapar, mas em vão, a teia das recordações rejeitadas surge agora brilhante, à luz duma consciência, entorpecida pelo choque de um despertar que não quis, para um passado nunca totalmente esquecido !


Seguir em frente parece-lhe a única saída e contudo assemelha-se a uma montanha intransponível, a uma selva intensa e cerrada cujas as raízes nos amarram às portas do próprio inferno.


Quisera voar, mas as penas soltam-se em catadupa numa queda estonteante à margem de um precipício... e eis que o anjo se vê caído... em profunda desgraça !


Perdoar-se e perdoar, é a janela que lhe pode trazer a luz, a porta para o jardim onde se encontram a paz, a harmonia e o sossego a que não foi habituada e que anseia desde que é gente.


Exausta procura força, triste procura alegria, só procura apoio, mas hoje tem apenas a neblina como conforto e a chuva por companhia ! Melhores dias virão... ou não.


dimanche 17 août 2025

Abraçar a solidão

 


Uma verdadeira montanha russa as horas dos seus dias. Ora uma súbida épica em direção ao cenário ideal, ora uma queda a pique nas profundezas da incertitude, no nevoeiro cerrado do medo, na paralisia total da vontade !


Não chega querer, não basta sonhar é partilhar que mais importa... e com quem ?! Aqueles que mais ama distanciam-se, pela ausência de partilha no rumo que escolhem e tornam-se silhuetas quase apagadas de um tempo, que só de lembrar dói... dói na memória, no coração e até na alma.


A cada passo a necessidade de se recentrar, de se relembrar dos desafios a vencer para alcançar aquele espaço de paz e tranquilidade de que tanto precisa. Bem lá no fundo o que lhe falta mesmo é acreditar que merece !


De tanto a terem declarado incapaz, apesar da luta constante para seguir em frente e levar consigo quem mais amava, chegou áquela étapa do caminho em que as forças lhe começam a faltar.


Basta de carregar consigo a bagagem duma vida que, sem pudor, a rejeita e dela se envergonha.


Chegou a hora de transformar a solidão na sua melhor companhia, abraça-la sem receio e, quem sabe, voltar a sorrir com prazer e vontade.