mercredi 27 août 2025

Pedaços de nós...



Uma chuva miudinha e morna de Verão, uma neblina escassa e leve, uma atmosfera calma e silenciosa... por momentos nem mesmo as aves se ouvem, abrigadas sob os telhados em perfeita quietude.

Um dia como muitos outros, apenas quebrado sob o peso desta tristeza que nos acompanha onde quer que possamos ir.


Em casa, tudo e todos esperamos por ti Lilu, os bichanos, eu e todas as boas lembranças da sua presença ainda no ar. Nada mudou, apenas aquela certeza que acompanhava a sua própria aura. Antes tudo era simples e a sua continuidade evidente.


Hoje, sem Ele, evitamos até as nossas sombras fugindo do sol, mergulhando na noite e seus incontornáveis abismos, de onde pensamos sair imunes e mais resistentes. Mas a verdade é que saímos exaustas, tentadas pela inércia do medo, como se pudessemos abrir um parêntesis à Vida, por tempo indeterminado, enquanto esperamos que a tempestade passe.


Mas apenas o tempo passa, sem hesitação ou arrependimento, deixando para trás pedaços de nós à espera de um dia serem recolados... ou simplesmente abandonados.

lundi 25 août 2025

Apontando o caminho... sorrindo!





Tenha a idade que tiver um filho, no coração da mãe será sempre uma criança !


Deitada no sofá ao seu lado, encolhida em posição quase fetal, esguia e até um pouco pálida, de olhos semi-fechados, Lilu dormia... de um sono trémulo e frágil quanto ela.


Por momentos acariciou-lhe os cabelos e num gesto que nem sabe explicar, prolongou o movimento da sua mão direita, a alguns centímetros de altura, ao longo do seu corpo, como quem tenta varrer todas as más vibrações que sorrateiramente se tenham infiltrado nesse seu ser tão acolhedor e meigo.


Ao mesmo tempo ia mumurando : 'Que Deus, o Universo, a Natureza e tudo o que de bom rodeia o ser-humano te protejam, filha do meu coração... e de um momento de entrega ao Amor. Bem Hajas, sonho meu.'


Comunga do seu sofrimento e pede aos céus que a ajudem a ajudá-la, que a devolvam sã e salva, de toda a angústia e ansiedade em que mergulhou, ao perderem a parede-mestra do seu lar, o chão sagrado do seu templo... de alegrias e estrelas agora tão longínquas !

Nada está perdido, talvez suspenso, ou apenas adiado, à espera que uma vez de novo juntas, em harmonia, possam erguer-se, para continuarem, cada uma a sua estrada, certas de que Ele estará sempre por perto, apontando o caminho... sorrindo ! 

mercredi 20 août 2025

Velhas, feias e poeirentas memórias...

 




Uma profunda tristeza e um enorme vazio consomem-lhe a alma em noites febris de desassossego.


Os diálogos dos últimos dias foram intensos e marcados por velhas, feias e poeirentas memórias que o tempo e a dor incharam, agravando sem piedade o seu impacto em almas tão doridas quanto as suas.


Sente-se levada por um redemoinho sem fim, numa espiral de eterna mágoa e sofrimento. Debate-se para escapar, mas em vão, a teia das recordações rejeitadas surge agora brilhante, à luz duma consciência, entorpecida pelo choque de um despertar que não quis, para um passado nunca totalmente esquecido !


Seguir em frente parece-lhe a única saída e contudo assemelha-se a uma montanha intransponível, a uma selva intensa e cerrada cujas as raízes nos amarram às portas do próprio inferno.


Quisera voar, mas as penas soltam-se em catadupa numa queda estonteante à margem de um precipício... e eis que o anjo se vê caído... em profunda desgraça !


Perdoar-se e perdoar, é a janela que lhe pode trazer a luz, a porta para o jardim onde se encontram a paz, a harmonia e o sossego a que não foi habituada e que anseia desde que é gente.


Exausta procura força, triste procura alegria, só procura apoio, mas hoje tem apenas a neblina como conforto e a chuva por companhia ! Melhores dias virão... ou não.


dimanche 17 août 2025

Abraçar a solidão

 


Uma verdadeira montanha russa as horas dos seus dias. Ora uma súbida épica em direção ao cenário ideal, ora uma queda a pique nas profundezas da incertitude, no nevoeiro cerrado do medo, na paralisia total da vontade !


Não chega querer, não basta sonhar é partilhar que mais importa... e com quem ?! Aqueles que mais ama distanciam-se, pela ausência de partilha no rumo que escolhem e tornam-se silhuetas quase apagadas de um tempo, que só de lembrar dói... dói na memória, no coração e até na alma.


A cada passo a necessidade de se recentrar, de se relembrar dos desafios a vencer para alcançar aquele espaço de paz e tranquilidade de que tanto precisa. Bem lá no fundo o que lhe falta mesmo é acreditar que merece !


De tanto a terem declarado incapaz, apesar da luta constante para seguir em frente e levar consigo quem mais amava, chegou áquela étapa do caminho em que as forças lhe começam a faltar.


Basta de carregar consigo a bagagem duma vida que, sem pudor, a rejeita e dela se envergonha.


Chegou a hora de transformar a solidão na sua melhor companhia, abraça-la sem receio e, quem sabe, voltar a sorrir com prazer e vontade.



vendredi 15 août 2025

Entre dois mundos...

 



O acordar foi mais calmo, mais pausado, mas também mais determinado. Na sua mente, o esboço dos seus mais profundos desejos e sonhos começava a dar lugar a um outro, marcado mais pelas suas necessidades e pela realidade nua e crua.


Os passos para a sua construção começam a delinear-se de forma nítida e quase colorida. No fundo só tinha que se pôr no topo da lista, como prioridade essencial.


Era chegado o momento de se ouvir, de se estimar, de se cuidar, talvez assim fosse mais fácil ser compreendida e mesmo que assim não fosse o mais importante era sentir-se em acordo consigo mesma.


Tinha apenas que dar tempo ao tempo, o necessário para pôr em marcha o esboço dos seus passos em direção à sua bolha, ao seu conforto, ao seu novo/velho refúgio.


Viver entre dois mundos pareceu-lhe, num primeiro tempo, irrealista, quase utópico, mas com o passar dos dias deu-se conta que não o era, que era possível e até desejável.


De repente o ânimo volta, com ele a esperança de recuperar algum conforto e a manhã torna-se ainda mais bela, despertando velhas e doçes memórias que são agora o seu melhor refúgio.

jeudi 14 août 2025

Começar de novo!?





Não sabe sequer por onde começar... 

Quando começa a Vida de uma pessoa ? No seu nascimento ? Ou apenas quando a sua consciência acorda para o mundo que a rodeia e que vai moldando a sua existência ? E onde começa ? No quarto de Hospital onde nasceu ? Na casa de seus Pais, onde foi criada ? Ou no quarto onde pela primeira vez fez amor ?


A sua começou e recomeçou por várias vezes ! Três companheiros, três filhas, alguns projectos, alguma dor e muitos sonhos pelo caminho...


Hoje, viúva, só, constata que as filhas mal suportam a sua companhia, ou sequer presença. O segredo está em aceitar, não sem dor e bastantes lágrimas, para seguir em frente.


Recomeçar aos 66 anos nem sequer lhe atravessara o espírito ! Apesar dessa morte, tão violenta e inesperada, estava convencida que com a ajuda e companhia das filhotas haveria uma continuação, que juntas iriam partilhar uma parte do caminho, enfrentar problemas mas também celebrar todos os bons momentos que a Vida ainda lhes daria. É com espanto e sofrimento que se dá conta que nada disto é possível ! Não hoje, nem aqui, talvez num outro futuro duma outra dimensão(!?)


Aqui e agora só lhe resta digerir até aceitar, preparar o caminho e continuar...


samedi 9 août 2025

L'art d'être seule...





Être seule c'est encore très douloureux, trouver une destination est devenue une tâche au quotidien que je fais l’effort de transformer en plaisir ou en des moments de création... j'essaie d 'écrire.

Mon effort est timide mais malgré ça authentique, car je suis convaincue qu'une fois ces mots sorties, mon esprit se vide un peu de cette noirceur qui le trouble et l'épuise.

La guérison demande du temps, encore et encore... et malgré qu'il passe on n'arrive pas pour autant à se sentir guéri, pas moi en tout cas, pas encore. Alors je rêve éveillée, je me vois, dans un temps et un espace assez proche, me promener au bord de la mer ou tout au long d'un petit chemin de village bordé de belles arbres en fleur. L'insouciance aux yeux et le sourire aux lèvres, je me lance à nouveau dans les bras de la vie consciente que la fin s'approche.

Peu importe, chaque jour peut encore nous apporter du nouveau et surtout de la joie qui, petit à petit finira par déloger cette immense tristesse qui s'est emparée de ma vie. C'est mon plus grand souhait, je dirais même mon souhait ultime, celui qui va alléger mon cœur et libérer mon âme prise en otage par la douleur de ton absence... devenue éternelle. Et pourtant je t'aimais, je t'aime et je t'aimerais jusqu'à la fin de mes jours .