dimanche 7 décembre 2025

Foram dois longos anos... meu Anjo!


 



Foram dois longos anos, os mais longos de toda a minha vida !


Em 2024 contemplei o rosto do Homem que mais amei resistir ao sofrimento em silêncio e sem nunca se queixar... vi-o transformar-se, vi a luz dos seus olhos lentamente apagar-se e segurei nas minhas as suas mãos, no desejo profundo de nunca as esquecer e guardar na minha alma a Paixão que nos abraçou e o Amor que nos uniu. Rezei baixinho, enquanto lhe lavava o corpo, mas não houve milagre... e assim mergulhei no desespero atroz da impotência, nadando contra a corrente até à última hora da sua vida.


Após a sua morte e durante todo este ano de 2025, bati-me dia após dia contra o sentimento de revolta deixado pela sua ausência, contra a vertigem de ter perdido o meu chão e com ele o horizonte. Passei todos estes meses a digerir, lenta e dolorosamente o que não posso mudar... aceitar a Vida sem Ele.


É um facto, ao qual posso fugir desistindo de mim, de todos e de tudo. Mas esta manhã acordei decidida a aceitar o até aqui inaceitável, a enfrentar o até aqui impensável e continuar... na tentativa de realizar o seu último desejo, confessado à equipa médica dos cuidados intensivos na sua última semana de vida, ''Que a minha mulher seja feliz''.


E que a tua  Luz ilumine o caminho que me resta e me ajude a encontrar a paz de que preciso para voltar a sentir a alegria de viver... meu Anjo!

vendredi 5 décembre 2025

O abrigo do perdão


 


Esta sexta-feira está a revelar-se especial...

Um dia mais doce, mais luminoso quase alegre ! Tudo porque esta manhã, às voltas com os meus pensamentos, percebi finalmente que no meio da nossa/minha tempestade, envolta nos redemoinhos da tua doença, passei ao lado do pequeno inferno que a nossa Princesa atravessava !


Naquela tarde em que resolveu anunciar-nos que iria demitir-se e procurar novo trabalho, não percebi que uma tal decisão revelava, não só, a frustração que sentia por não ter atingido as metas a que aí se propunha mas, sobretudo, a coragem de não baixar os braços e ousar procurar melhor.


Noutra qualquer altura não teria tido o mesmo peso, mas na tempestade que atravessavamos não havia lugar para mais uma barca à deriva... a nossa já sobrava !

Naquele momento, instalou-se o medo na minha mente: medo que falhasse e que se arriscasse a viver uma situação precária. Medo que rapidamente se transformou em pânico e que exprimi de forma brutal, cruel e em modo de acusação...


Hoje, mais de um ano passado, após longa ruminação, resolvi pedir-lhe que me desse um pouco do seu tempo para lhe confessar o que então me ia na alma... minutos depois batia-me à porta e finalmente, olhos nos olhos, desabafei a dôr que me consumia... mea culpa, mea culpa, minha máxima culpa !


A conversa não foi longa, mas foi intensa, calma e de um grande alívio... se queremos virar a página e seguir em frente precisamos por vezes de nos despir para, quem sabe, poder assim alcançar o abrigo do perdão !

mercredi 26 novembre 2025

Dói-me a Alma...

 



Solto-me, virtualmente, pelos caminhos de uma pequena aldeida que a pouco e pouco se cobrem de extensos mantos brancos, resplandescentes e suculentos que nem claras com açúcar batidas em castelo, chega a dar vontade...


Os tectos das suas casas, também eles branquinhos, espelham a luz de um sol demasiado longínquo para os poder libertar dessa neve, de aparência tão doce e inocente, mas que queima se a tocas.


O branco do cume das montanhas desenha na perfeição a linha do horizonte, que separa o céu tão límpido e azul dos tons cinza e ocre duma terra apagada e envelhecida pelos ventos de Inverno! Na sua base cursos de água correm borbulhentos por entre rochedos, para desaguarem em rios ou lagos velhinhos de esperar...


Dou-me conta que não estou só, ao longe apercebo-me de outras presenças que, como eu, deixam as marcas dos seus passos em sulcos profundos, difíceis de apagar... assim é o ser humano, a sua presença pode ser curta mas as marcas que deixa podem prevalecer para além da sua passagem e por vezes mesmo da sua existência.


Assim foi a tua passagem nas nossas vidas, deixou sulcos profundos, bem mais profundos que passos sobre a neve, bem mais vivos que estes cursos de água borbulhentos... e que nada nem ninguém vão poder algum dia apagar !

Mas devo confessar que anseio pelo dia em que vou poder lembrar-te sem este peso no peito, nem esta dôr a rasgar-me a alma !


vendredi 21 novembre 2025

Inverno, sem calor humano...


 


Custou sair da cama, depois duma noite mal-dormida e custou ainda mais sair de casa para uma cidade gelada, cinzenta e despida de gente. O Inverno já chegou e faz-se sentir em todo o seu grizalho esplendor ! São poucos os que ousam passear pelas ruas, quem cruzamos passa ligeiro, quase corre, como quem foge a ser tocado pelo frio.


Não nego a beleza do Inverno, mas o seu frio cruel e a sua falta de luz põe na ribalta a brutalidade da minha solidão e isso fere-me, morde-me a alma que atribulada quase me salta pela boca num grito rouco de desespero.


Tempos houve em que gostava do Inverno, da sensação de abrigo por detrás duma janela com uma chávena de café bem quentinho nas mãos... a olhar as árvores despidas, sacudidas pelo vento e pela chuva ou quebradas sob o fardo sublime de um manto de neve.


Nesses tempos o meu escudo não eram as paredes de cimento, mas sim as muralhas de mãos e abraços – de calor humano - ao meu redor ! O tal sentimento de pertença a uma Tribo...


Chamem-lhe o que quiserem, eu chamo-lhe Família  e a minha sumiu sob o peso dos meus erros.


mercredi 19 novembre 2025

Espera por mim... Primavera





Saio porque ficar dói, mas sair acaba também por doer. Ninguém me espera, apenas o asfalto, o frio e os ruídos daqueles que realmente vivem sem mesmo se darem conta. Cada dia que passa tento focar-me numa pequena acção ou gesto, algo que me dê a sensação de que ainda estou viva e que sê-lo vale toda esta pena!

 

Não foi só mais um dia de desterro e solidão, de distância e silêncio, de carência e tristeza... pode não parecer mas ainda estou viva! Eu existo, mesmo que por vezes me sinta perder o direito de ser eu, insignificante, imperfeita, incompleta... perdida numa teia que se construíu à minha volta sem sequer me dar conta ! Não posso mexer-me muito, sob pena de paralizar por completo, tenho que esperar a vinda do sol e deixar que o seu calor dissolva as linhas perfeitas da teia.


Março parece-me o mês ideal para ousar partir, ficar longe por um longo período, feito de muitos dias em que também estarei só, mas completa, perfeita, rodeada de mar, das nossas lembranças e livre dos laços que me prendem à teia dolorosa da minha existência sem Ti.

Espera por mim... Primavera 

lundi 17 novembre 2025

Oxalá...




O fim de semana foi longo, talvez porque o tempo custou mais a passar... os dias de Outono/Inverno, curtos, frios e chuvosos convidam pouco ao passeio e fazem-nos mergulhar nas profundezas sombrias das nossas emoções. Umas vezes procurando respostas, outras remoendo possibilidades que nos escaparam, outras ainda tentando projectar-nos num futuro que apagará todas as falhas e nos fará esquecer os piores momentos.


A chuva miudinha, presente durante quase todo o dia, escorria pelas folhas das árvores desbotando as suas cores como numa aguarela envelhecida pela humidade de um tempo invernal e cruel.


Agitados, porque activos, são os dias de Primavera, que nos procuram enredos nas brisas coloridas dos primeiros rebentos, que nos sopram aromas de campos em flor e nos fazem acreditar na promessa de melhores dias. É o Sol o responsável, a sua luz e o seu calor, envolvem-nos num abraço longamente esperado...


Nada acaba, tudo se transforma e recomeça, quero por isso acreditar que no novo ciclo que se anuncia, por entre as nuvens, vai haver espaço para o sonho, a ternura, as gargalhadas de um bom convívio entre amigas, a partilha de pequenas alegrias, enfim Vida sentida com prazer e esperança... Oxalá !

jeudi 13 novembre 2025

Faz hoje um ano...





Faz hoje um ano que partiste, um ano que nos deixaste entregues a nós mesmas, perdidas, confusas, revoltadas, assustadas, reduzidas a repetir ao quotidiano os mesmos passos, a seguir os mesmos caminhos, os mesmos rituais vazios e amargos.


Só uma de entre nós parece ter conseguido reencontrar-se no caminho que era já o seu, bem antes da tempestade. Chegou a perder o norte e a beirar o precipício, mas nesse momento de vertigem a força da sua mente e a lucidez do seu espírito ajudou-a a atravessar a ponte para a outra margem... a da vida sã que ainda celebra a cores a mais pequena meta. Bem-haja porque dela nascerá, ou não, o testemunho da tua existência.


As outras duas, lutam entre si, contra moínhos de vento e fantasmas de velhas dores que não conseguem nem vencer nem esquecer. Rasgam-se com palavras afiadas até ao sangue lhes inundar a alma. Esbugalham-se os olhos para exprimir a raiva das palavras não ditas, os desencontros inaceitáveis, a rejeição de um Amor a que nunca poderão fugir ainda que se matem a tentá-lo.


Pobre delas que não conhecem o silêncio do respeito, na aceitação do outro !


Partiste e os laços que nos uniam partiram também. Não só te perdemos como perdemos o espirito de família que nos unia.


Não preservamos a tua imagem, nem o Amor que nos dedicaste... PERDOA-NOS ! Porque neste nosso inferno vive a chama do nosso Amor por TI.