Após uma adolescência genuinamente impulsiva e fértil: dois companheiros e duas filhotas... num dia qualquer, inodoro e incolor, sacudida pelo olhar dos outros, Laura acordou subitamente - Adulta e Culpada!
Esse despertar, súbito e tardio, levou-a a passar uma boa parte da vida esforçando-se por agradar, na esperança última de, talvez um dia, ver resgatada a sua culpa e porque não, algum reconhecimento e até respeito. De tal forma o fez que se transformou no seu próprio carrasco, esmagando sem hesitar toda a sua autenticidade. A tal ponto que o espelho já não a refletia, apenas o peso dos seus erros e a aparência disforme da sua auto-estima.
Mas nem por isso deixou de acreditar na Vida e no Amor. E assim surgiu o terceiro companheiro e a mais nova das Princesas. O caminho pela frente continuaria a revelar-se sinuoso, sim, mas também fértil em pequenas vitórias, feitas de obstáculos superados, de alguns objetivos alcançados e sobretudo de momentos felizes!
Entretanto a Terra foi girando, sem dó nem piedade, e a luta por dias melhores foi-se esgotando num horizonte que teima em não se deixar alcançar. O cansaço, esse, fez-se sentir até na alma e a vontade de virar a página esgotou-se nas dores de um corpo que o tempo aprisiona cada dia um pouco mais. Agora já só quer viver o momento presente, sem nada a ganhar ou perder, apenas viver ao sabor dos ventos e pequenos prazeres.
Olhar o céu nas gotas de orvalho, sentir a vida nos aromas frescos da manhã e mergulhar os pés na areia húmida da praia enquanto o olhar se perde no vaivém das ondas e se deixa embalar por esse mar, sempre tão seu de inquieto!
É tudo o que pede. Sentir-se em paz consigo mesma, mas sobretudo que a deixem continuar a acreditar que nada acaba apenas se transforma: como as folhas das árvores que depois de soltas, sem vida nem côr, se tornam humus: o alimento sagrado da Terra que nos sustenta.
Demorou tanto tempo a chegar aqui e a simplesmente aceitar-se, tal e qual a Vida a fez, tal e qual abraçou a Vida! Aceitar-se finalmente, sem embaraço ou vergonha, arrependimento ou culpa. Ser Ela mesma, sem medo ou hesitação, sem rodeios nem enfeites e apreciar-se apesar de tudo e todos. Demorou tanto, que ainda sente a dor do caminho já feito e por vezes chega mesmo a recear tratar-se apenas duma ilusão.
Em silêncio, porque esgotou toda a coragem que um dia foi sua, não pára de gritar que a deixem ser Ela mesma. Com tudo o que faz dela um Ser tão imperfeito e tão único, quanto a impressão digital dos seus dedos, o adn do seu corpo, ou a dor infinita da sua alma!
O capítulo mais longo e intenso da sua existência parece chegar ao fim com a morte anunciada do seu companheiro, Amor da sua vida, esmagando em poucos minutos todos os seus pequenos sonhos e roubando-lhe, no tempo de um relâmpago a alegria de viver... de repente a linha do horizonte desaparecia por entre um nevoeiro de dúvidas e medos. Não era assim que algum dia imaginara chegar à fase final do seu caminho... ao contrário esta era suposta ser a fase da paz tão desejada, pela qual tanto lutou e finalmente merecida.
Hoje já pouco lhe importa que gostem ou não gostem, que a julguem mal ou até mesmo incapaz! Hoje é o seu sentir que mais lhe importa é agradar-se o que mais deseja.
Hoje pergunta-se, se algum dia voltará a rir com vontade e a sentir no mais profundo do seu ser a Alegria de Viver(?!)